1 de agosto de 2009
Capítulo 6 - O último tango em Paris
Cap 6 O último tango em Paris
Quando ele apareceu naquela noite eu juro que minha intenção era trabalhar
Mas eu tinha esquecido que a tarde, ele dissera que assistiríamos àquele filme do Marlon Brando
O que eu prontamente me lembrei ao vê-lo na minha porta com um DVD na mão
-Não acredito
-não acredita no que? - ele passou por mim, entrando na minha sala e tirando a jaqueta
-que não vamos fazer nada. De novo.
-como assim não vamos fazer nada? Vamos ver Marlon Brando.
-Eu vou culpar você se tudo der errado, você sabe né?
-eu sou um cavalheiro. Sempre assumo a culpa
-Bom.
Ele se jogou na Chaise Lounge, enquanto eu colocava o DVD pra rodar.
Eu me virei e o fitei. Ele bateu com a mão ao lado dele
-Vem aqui, Kristen, não vou te morder
Eu ri, sentando ao seu lado
Os créditos do filme começaram e eu relaxei, me prendendo na história
Jeanne é uma jovem parisiense que está para se casar com Tom, um diretor de cinema que trabalha na realização de um documentário, denominado "Retrato de uma Jovem", onde a jovem é ela. Ao procurar um apartamento para alugar, Jeanne encontra Paul ( Marlon Brando) um expatriado americano que acaba de perder a esposa por suicídio. Até aí tudo bem. E então, sem mais nem menos, sem nem revelarem seus nomes, eles iniciam uma tórrida noite de sexo. Era impressão minha ou a temperatura tinha aumentado?
Eu nem ousei olhar para o lado.
Ao fim da cena, sem se falarem, deixam o local e cada um segue seu caminho.
De repente eu olhei para o lado e ele estava olhando pra mim.
-Não gostou?
-do que?
-do filme, Kristen.
-Oh... é bom... é... instigante... - Eu limpei a gargante – mas, tipo... eles podiam ao menos se apresentarem antes de... de...
-mas é esta a idéia. Isto que faz este filme fantástico. Vai além do sexo e...
-Vamos ver o filme – eu o cortei
E história continuava
Jeanne vai ao encontro do noivo, enquanto Paul passa pelo pequeno hotel, de sua propriedade, onde encontra uma camareira terminando de limpar o local onde se deu o suicídio.
Ao retornar ao apartamento para devolver uma das chaves, Jeanne reencontra Paul, a essa altura mobiliando o mesmo. Ela pergunta seu nome e ele lhe responde que não tem, bem como, que não quer saber o dela, nem onde ela mora. Segundo ele, os dois vão passar a se encontrar naquele local, sem procurarem saber o que acontece lá fora. . Ah sim, e voltam a fazer sexo. Claro.
-Ela é noiva. Isto é traição. - eu falei quase sem pensar
-é diferente. Ela não é a mesma com ele. É como uma realidade paralela. O mundo la fora não conta.
Ele tinha razão. Era esta a moral do filme de certa forma. Eu voltei meus olhos para a tela.
Oh, oh! Que perversão era aquela agora?
De repente a sala pareceu menor, nossas cabeças na mesma almofada pareceram mais próximas. Nossos corpos não se tocavam, mas era como se não houvesse espaço entre nós. Eu fiquei tensa. O que era absurdamente sem propósito. Não era nenhuma imbecil que nunca tinha visto um filme daquele tipo. Ok, não exatamente naquele estilo, com direito a dedos enfiados onde o sol não bate, ou sexo selvagem com ajuda de manteiga.
Mas, sei-la. Era muito diferente ver com Rob. Muito diferente.
-Que perversão – eu exclamei e ele riu
-é esta a idéia. É erótico sem ser pornográfico. É uma tentativa de falar abertamente sobre coisas que a sociedade prefere manter trancada a sete chaves.
-é perturbador – sussurrei - é uma relação alto destrutiva. Não vai dar certo.
-eles procuram um sentido para suas vidas.
-eles procuram sexo – falei irônica.
-Não é o que todos procuram?
Eu dei de ombros, ignorando a observação
-podia dar certo... se ele não tivesse tantos problemas... e ela não fosse noiva, claro
-relacionamentos não são para sempre.
-alguns são
-se ela gostasse do tal noivo não estaria com ele.
-mas você mesmo quem disse que ali é um mundo paralelo. Então, se pensarmos assim, ela pode fazer o que quiser... - eu virei a cabeça pra fitá-lo, minha voz foi diminuindo, ao me dar conta sem querer, de como estávamos próximos. - como se não existisse mais nada...
Ele estendeu a mão, os dedos seguindo a linha da minha sobrancelha.
-esta pegando o espírito, Kristen
De repente eu senti dificuldade de respirar. Algo dentro de mim, se revolveu e eu engoli em seco.
Era como... borboletas no estômago.
Ele tinha aquele meio sorriso nos lábios. O meu preferido. O que me fazia querer sorrir também. E eu me dei conta que naquele momento me sentia como Jeanne. Como se não importasse onde morava, quem era, ou o mundo lá fora. Existia apenas nós dois.
Meu coração deu um salto, batendo ensurdecedor contra minhas costelas.
Na tela a nossa frente, o filme continuava. Com esforço, eu me voltei para a TV.
Entre encontros e desencontros, eles estavam em um hotel, onde tocava um tango. E eles dançaram pelo salão, até serem expulsos.
Eu ri. Tudo parecia tão certo e ao mesmo tempo tão errado.
Era uma relação alto destrutiva. Mas o amor tem infinitas possibilidades...
No fim. Tudo acabava em tragédia. Com Jeanne dando um tiro em Paul.
Sem ao menos saber seu nome.
Era triste. E libertador.
Sabe aqueles filmes que mudam você de alguma maneira estranha? Era assim que eu me sentia.
De alguma forma, eu me sentia desligada de tudo. Me concentrando apenas naquele momento.
-ainda acha que é só perversão? - Robert perguntou suavemente ao meu lado
Eu virei a cabeça para olhá-lo.
-Não... há um sentido em tudo.
Ele estendeu a mão, os dedos quentes tocando meu rosto muito suavemente. Tirou uma mecha de cabelo dos meus olhos, colocando atrás da minha orelha, circundando o lóbulo, até minha nuca. Eu estremeci, como se uma corrente elétrica traspassasse meu sangue e fechei os olhos, incapaz de me mexer.
Primeiro eu senti o hálito quente em minha pele, antes que os lábios tocassem minha pálpebras cerradas. Eu suspirei, abrindo os olhos. Nossas bocas estavam a centímetros de distância.
Respirando no mesmo ritmo ofegante.
Então, ele me beijou. Os lábios tocando os meus devagar, mas intensamente persuasivos.
Eu deixei de pensar. Minha mente girou num turbilhão de sensações sufocantes, meu coração disparou alarmantemente.
Mas exatamente como tinha começado, o beijo terminou. Ele se afastou, me fitando com um sorriso de lado.
-o que foi isto? - indaguei suavemente
-foi um beijo – ele respondeu com aquele sorriso de lado – ou algo assim.
Devia estar histérica. Mas não. Surpreendentemente eu percebi que não ligava a mínima. Ok, eu tinha beijado Robert. Mas e daí? Teria que beijar ele infinitas vezes durante as gravações. Teria que fazer até mais que isto, se os outros filmes fossem gravados.
Pensando bem, de repente podia até convencê-lo a ensaiar mais aquele tipo de cena.
Eu ri pensando nas infinitas possibilidades.
Me sentindo mais viva do que nunca.
-o filme acabou – falei, me afastando meio contra a vontade.
Ele também se levantou, colocando a jaqueta
-Sim. Mais uma noite improdutiva – falou irônico, enquanto eu abria a porta
-Não, muito pelo contrario. Foi muito produtiva - eu sorriu e ele sorriu de volta. Matador. Definitivamente.
-esta mesmo pegando o espírito, K.
-Ou algo assim - eu respondi fechando a porta
Infinitas possibilidades. Nunca duas palavras me pareceram tão certas...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário